O Banco Santander conquistou 25% do mercado de financiamento para veículos no maior país da América Latina, o Brasil, em parte concedendo concessões a pessoas que não obtiveram êxito por outros bancos tradicionais.
Essa linha de negócios ajudou a impulsionar o Santander, durante a recente recessão do Brasil, mesmo quando os bancos rivais: Itaú, e Bradesco pisaram no freio, e outros bancos estrangeiros como o HSBC de Londres e o Citigroup dos EUA venderam seus negócios de varejo brasileiro em dificuldades. Apesar dos riscos das altas taxas de inadimplência nesses nichos específicos de crédito ao consumidor, o fato é que o Santander está navegando no Brasil, onde é o terceiro maior banco do setor privado.
O índice de inadimplência de 90 dias é o mais baixo entre os maiores bancos privados do Brasil, com 2,9% em setembro de 2019. O crescimento anual do crédito ao consumidor no Brasil atingiu 22,6% em setembro do ano passado, mais que o triplo da média da indústria, de 7%. A rentabilidade das unidades no Brasil, que há anos está abaixo dos pares, saltou para 19,4%, de 16,3% no mesmo período. Isso derrotou o Bradesco, o segundo maior banco privado do país, e reduziu a diferença com o Itaú, líder do setor.
A crescente dependência do Santander no Brasil mostra como os mercados emergentes ainda podem proporcionar um choque de crescimento. A unidade brasileira contribuiu com 26% dos lucros do grupo nos primeiros nove meses de 2018, ante 19% há quatro anos. O preço das ações do Santander no Brasil subiram mais de dois terços no ano passado, superando amplamente as ações de sua controladora, bem como as do Itaú e Bradesco.
Ainda assim, o financiamento para veículos de grandes dimensões, e sua disposição de apostar em tomadores de empréstimo e veículos evitados pelos concorrentes podem pressagiar uma estrada mais atroz à frente em um país com histórico de volatilidade econômica. Com certeza, o processo de crescimento do Banco Santander é uma história de sucesso até o exato momento, mesmo em meio a crise. Mas o banco será o mais exposto a inadimplências se a economia brasileira não se recuperar.
Cerca de 80% dos empréstimos para financiamento de veículos, são para carros com idade igual ou inferior a quatro anos, e os adiantamentos são altos, com média de 36%. “Se a carteira de empréstimos do Santander fosse problemática, ela já teria surgido após uma recessão histórica de três anos”, disse Angel Santodomingo, diretor financeiro do Santander Brasil. “Nosso sucesso na qualidade do crédito está relacionado à nossa capacidade de analisar e precificar o risco das pessoas”.
Big data a serviço do crédito ao consumidor
O banco está aproveitando o big data para coletar informações além da renda e da economia do mutuário. E os executivos de risco do Brasil estão usando ferramentas da empresa que obtiveram sucesso em outros lugares, incluindo os Estados Unidos, onde o Santander é um dos principais financiadores de veículos de alto risco. O banco também adotou a Internet para expandir seus negócios, alavancando as vendas online geradas pelo Webmotors, o maior portal automobilístico do país.
Há dois anos, lançou um aplicativo que permite que os revendedores arranjem empréstimos de carro em questão de minutos para compradores que atendam os requisitos necessários, uma inovação que agora está sendo copiada por outros bancos brasileiros. Esse processo já levava pelo menos um dia e exigia que os compradores de carros fornecessem resmas de documentação. Se o crédito for aprovado, os clientes assinam o contrato digitalmente.
O Santander planeja usar esse modelo para expandir seus negócios de financiamento ao consumidor no Brasil com valores voltados para férias, materiais de construção e painéis solares, de acordo com Andre Novaes, chefe da unidade de financiamento ao consumidor do Santander. Muitos bancos brasileiros evitaram realizar essa concessão devido ao alto risco de inadimplência e às garantias instáveis.
Para salvaguardar sua carteira, o Santander disse que encorajou clientes altamente endividados a refinanciar e consolidar diferentes tipos de concessões em atraso em uma única concessão com prazos mais amigáveis. Alguns banqueiros, no entanto, veem a prática como uma maneira de mascarar o índice de inadimplência do Santander.
Devemos lembrar que as perdas graves em 2011 obrigaram o Itaú e o Bradesco a deixar de financiar motocicletas de baixo custo e a proibir carros de 10 anos ou mais de suas carteiras. Eles também aumentaram os adiantamentos e reduziram os vencimentos dos empréstimos, que se estenderam até 70 meses.